segunda-feira, 4 de abril de 2011

Combustível em falta, preço em alta.

Recentemente, um aumento súbito no valor do etanol repassado aos consumidores assustou muitos brasileiros. Eram reajustes semanais, senão diários, no valor do combustível. Porém, mesmo com o aumento, o combustível ainda era vantajoso em relação à gasolina, que, historicamente, e devido às taxas impostas pelo governo brasileiro, sempre foi de valor elevado.
Porém, pouco foi noticiado o que de fato levou à essa crise. Ora, somos o país com a terceira maior reserva de petróleo do mundo (por enquanto; a camada pré-sal ainda não foi totalmente mensurada, mas isso é assunto para o futuro). O que importa é que pioneiros no uso e exportação de biocombustíveis, e o nosso carro-chefe, nosso principal produto de propaganda está em falta?
A Petrobrás, empresa estatal que possui o monópolio da distribuição de derivados do petróleo, e também regula o mercado interno de combustível, alegou à Reuters que o motivo foi que o Brasil cresceu 7,5% no ano passado, mas a demanda pelo óleo e seus derivados cresceu 10%. Também alegou, em outra notícia, que o mercado não reagiu conforme o esperado à elevação do preço etanol, pois o combustível estava em falta, que se justificava pelo atraso no início da safra desse ano.
Porém, pouco foi noticiado o fato de que, para atender a atual demanda (que aumentou com a entrada de carros e motos flex por todo o país, além da exportação do etanol) o Brasil precisaria de, pelo menos, 15 usinas que já estivessem moendo na safra de 2011/2012. Ou seja, o governo retirou todos os incentivos, estagnando o setor e levando-o à beira do colapso.
O Brasil tem hoje 5 usinas em construção, e mais 3 em fase de planejamento. As usinas em construção tem previsão de entrar em funcionamento nos próximos 2 a 3 anos, e elas serão usinas múltiplas (poderão moer cana para produzir etanol ou açúcar, o que for mais vantajoso) e as que estão sendo planejadas ainda não tem previsão de quando irão começar às obras. Mesmo assim, quando essas usinas em construção estiverem funcionando à sua capacidade máxima de moagem (ou seja, de 3 a 4 anos após a inauguração) o déficit brasileiro será muito maior.
Já passou da hora do Governo da Exma. Presidente Dilma começar a planejar qual será o futuro do etanol brasileiro. Ou o Governo freia de uma vez o crescimento econômico, trazendo-o para o patamar dos 3-4%, ou começa a investir em infraestrutura. E depender de petróleo já se mostrou um negócio de risco, haja visto a instabilidade nos países árabes, principais exportadores do material.
Só para constar, a Petrobras importou, em todo o ano de 2010, 3 milhões de litros de gasolina, e se programou para o mês de abril de 2011 importar 1,5 milhão de litros.
Onde está toda a força da Petrobras e de seu pré-sal? Onde está nossa auto-suficiência em combustível? Será que novamente fomos enganados por propaganda política? Infelizmente, não posso responder isso agora.
Só posso lhes dizer que no Brasil não há regulação alguma de mercado algum. Não defendo algo como o socialismo, longe disso. Apenas acho que o governo deveria sugerir à Petrobras quais ações tomar em determinados momentos mais agudos, pois já ficou mais provado que a auto-regulação do mercado brasileiro é falha em quase todos os setores. E, indo mais além, acho que a concorrência é sim saudável, e que a exploração e refino deveria ser aberta a empresas privadas (nacionais ou não), desde que os produtos fossem direcionados ao comércio interno, e o que fosse produzido a mais, ficasse para os estoques nacionais.

Aguardemos o desfecho de mais esta trama, que parece estar longe de acabar.